Cientista busca vacina antidroga

 

Imagine uma vacina contra o tabaco: pessoas tentando parar de fumar acenderiam um cigarro e não sentiriam nada. Ou uma vacina contra a cocaína, impedindo que os viciados aproveitassem as sensações do efeito da droga.

Embora nenhuma delas esteja iminente, ambas estão sendo discutidas – assim como vacinas para combater outros vícios. Enquanto cientistas historicamente focaram seus esforços de vacinação em doenças como poliomielite, varíola e difteria – com grande sucesso _, hoje eles estão trabalhando em injeções que poderão, algum dia, libertar pessoas das garras das drogas.

”Enxergamos isso como um caminho alternativo para algumas pessoas’’, disse o Dr. Kim D. Janda, professor do Scripps Research Institute que fez disso a obra de sua vida. ”Assim como os adesivos e o chiclete de nicotina, essas coisas são apenas sistemas para livrar as pessoas das drogas’’.

Janda, químico de fala ríspida com um gosto por uísques caros, vem tentando há mais de 25 anos criar uma vacina assim. Como as doses contra doenças, estas vacinas agiriam estimulando o sistema imunológico a produzir anticorpos que desativariam o narcótico antes que ele pudesse criar raízes no corpo, ou no cérebro.

 

 

Diferente das vacinas preventivas – como as conhecidas para caxumba, sarampo e assim por diante _, este tipo de injeção seria administrado depois que o usuário já houvesse sucumbido a uma droga. Por exemplo, viciados em cocaína vacinados com uma das fórmulas de Janda antes de cheirar a droga relataram uma sensação como a de, segundo ele, ”usar uma cocaína batizada’’. ”Eles se sentiram como se estivessem desperdiçando seu dinheiro’’.

Esse uso inovador para vacinas colocou Janda, de 54 anos, na vanguarda dos tratamentos contra o vício. Como o vício é considerado como causador de mudanças físicas no cérebro, médicos defendem cada vez mais soluções médicas para o problema com drogas nos Estados Unidos, levando a um interesse renovado por seu trabalho.

”O assunto está muito em voga atualmente’’, afirmou Janda, sentado numa poltrona de couro em seu escritório. ”Isso não era assim quando começamos a pesquisar, há 27 anos’’. Em julho, o laboratório de Janda – 25 pesquisadores, a maior parte em idade universitária – chegou às manchetes ao anunciar a produção de uma vacina que reduzia os efeitos da heroína em ratos. Roedores que receberam a vacina não experimentaram os efeitos analgésicos da heroína e pararam de procurar a droga, presumivelmente porque deixaram de sentir qualquer efeito.

Mas como ocorreu diversas vezes na carreira de Janda, a descoberta veio acompanhada de um contratempo: um experimento clínico com uma vacina para nicotina, que era baseada basicamente em suas pesquisas, foi declarado um fracasso neste trimestre, quando as pessoas recebendo a droga pararam de fumar no mesmo ritmo que pessoas recebendo placebo.


Até este momento, apesar de muitas descobertas promissoras, nenhuma das vacinas de Janda recebeu aprovação da FDA (agência que controla a venda de remédios e alimentos nos EUA). Mesmo com muitos sucessos no laboratório – incluindo promissores testes com animais _, as vacinas ainda não geraram resultados consistentes em humanos durante experimentos clínicos.

”É como ter a cenoura bem na frente do cavalo’’, comparou ele. ”O grande problema dessas vacinas é a dificuldade em prever seu funcionamento em seres humanos’’. Ou, acrescentou ele, ”talvez eu simplesmente esteja sem sorte’’.

O princípio científico por trás das vacinas de Janda é, segundo o próprio, ”estupidamente simples’’. Assim como em vacinas contra doenças, elas introduzem uma pequena quantidade da substância estranha no sangue, fazendo com que o sistema imunológico crie anticorpos que atacarão essa substância da próxima vez em que aparecer.

A dificuldade é que moléculas como cocaína, nicotina e meta-anfetaminas são minúsculas – muito menores do que moléculas de doenças _, e o sistema imunológico tende a ignorá-las. Para superar isso, Janda anexa um hapteno – que é um pedaço da droga em si ou uma versão sintética – a uma proteína maior, que age como plataforma. A parte final da vacina é um adjuvante, um coquetel químico que atrai a atenção do sistema imunológico – levando-o a desenvolver anticorpos contra uma substância que normalmente nem seria percebida. ”Não é como alguma premissa mágica’’, afirmou Janda. ”E o melhor disso é que não estamos mexendo com a química do cérebro’’.

 

Fique atento a mais notícias em breve…

 

 

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