A República Democrática do Congo (RDC) tem recebido crescente atenção da mídia brasileira, graças aos desafios humanitários no país e ao protagonismo que o Brasil vem adquirindo na Missão de Paz da ONU local (Monuc, hoje Monusco), a maior e mais cara empreitada de paz das Nações Unidas.
Hoje o país vive uma proliferação de grupos armados, violência endêmica e caos humanitário, devido, sobretudo, às heranças da história colonial e pós-colonial e dos anos de guerra. Há esperanças, porém, no potencial de estabilidade político-econômica e no estabelecimento de novas parcerias internacionais.
A realidade da RDC envolve alguns aspectos históricos. A primeira herança marcante foi a colonização belga. Embora a colônia representasse 80 vezes o tamanho da metrópole, esta deixou marcas profundas e nocivas. Entre elas, a forte exploração econômica – combinada com práticas cruéis de opressão da força de trabalho – e a instrumentalização de grupos étnicos para dividir e controlar a sociedade.
Outras heranças marcantes foram os conflitos internos pós-coloniais e as escolhas políticas de lideranças nacionais. Por outro lado, a colonização trouxe frutos positivos, criando uma das economias mais pujantes da África, sobretudo devido aos crescimentos agrícola e industrial. Esse potencial pós-independência (1960) foi prejudicado, temporariamente, pela guerra civil precoce, e, de forma mais permanente, pelas políticas presidenciais.
Além disso, a Crise do Congo (1960-1965) aglutinou rivalidades próprias da Guerra Fria, como o assassinato do primeiro-ministro do país, Patrice Lumumba, em 1961,com participação belga e apoio da CIA, e a explosão de movimentos revolucionários no centro e no leste do país, suprimidos com apoio dos EUA e da Bélgica. A guerra causou a morte de 200 mil pessoas e o seu fim foi marcado pela ascensão do militar Joseph-Désiré Mobutu (1930-1997) com apoio ocidental (EUA, França e Bélgica).
A maioria dos postos em empresas públicas foi passada a amigos e parentes confiáveis, fixando-se uma “economia de roubo” (cleptocracia). A situação foi agravada pelo acúmulo da dívida externa na década de 1980, que contribuiu para o colapso das contas públicas, a desvalorização monetária, a hiperinflação, a pauperização generalizada e o crescimento da economia informal.
A guerra acabou em 2003 com um governo de transição e a expansão da Monuc.
Os conflitos, porém, não cessaram. Grupos armados continuaram atuando no leste do país (FDLR, ADF e Mai-Mai, entre outros) e novos surgiram (LRA, CNDP, M23) graças a dois elementos principais. Primeiro, a incapacidade das forças de segurança de protegerem a população. Segundo, as falhas dos acordos de paz, que não envolveram todos os grupos e incentivaram a violência como forma de obter concessões políticas (cargos no governo e integração no exército). Outra lógica nociva é a interferência de países vizinhos.
O povo é quem mais sofre com a guerra constante. Mesmo após o fim formal das conflagrações, em 2003, mais de 1,6 milhão de pessoas morreram.
Aqueles que escaparam no leste do país aumentam o número de refugiados (186 mil), deslocados internos (mais de 2,5 milhões), miseráveis (menor PIB per capita do mundo: 400 dólares) e infectados por HIV/Aids (sexto caso mais problemático). Essa última situação é agravada pela prática do estupro, que, assim como a utilização de crianças-soldados, tornou-se instrumento dos grupos armados para abalar moralmente as comunidades e enfrentar a escassez de recursos.
No entanto, há motivos para ter esperança com relação à RDC. Fora da zona conflitiva do leste, o país está pacificado e a economia cresce mais de 7% ao ano com novos investimentos em transportes e energia.
Além disso, ações para reintegrar a população na economia (emprego e renda) garantiriam, no longo prazo, a opção pela paz.
Nesses casos, os projetos de cooperação técnica do Brasil, já estabelecidos com países africanos, podem auxiliar esse parceiro a superar desafios históricos e ainda atuais.
Fonte: Revista Carta na Escola
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