EXAME.com: Qual o discurso pregado na Universal a respeito do dinheiro que permitiu a construção de um templo de R$ 680 milhões?
Edin Abumanssur: Há duas visões sobre dinheiro no meio evangélico. Para as igrejas tradicionais [como Igreja Luterana e Presbiteriana] e algumas pentecostais, o dinheiro é uma coisa que serve para pagar conta – aluguel do prédio, água, luz e impostos. E isso é tratado de uma forma transparente com a comunidade. Todo mundo sabe para onde foi cada centavo dos dízimos e ofertas.
Na Universal, dinheiro não é dinheiro. É o mediador espiritual do homem com Deus. Antes [no Velho Testamento], o sacrifício era feito com ovelha ou pomba. Eles acreditam que, hoje, o sacrifício é o seu dinheiro. O compromisso não é com a comunidade, é com Deus. O fiel nem quer saber o que o pastor vai fazer com o dinheiro.
EXAME.com: Por que igrejas como a Universal encontraram mais espaço no Brasil?
Edin Abumanssur: As igrejas do protestantismo vieram importadas dos Estados Unidos e da Europa com uma mentalidade diferente da brasileira e se recusaram a dialogar com essa visão. Já a Universal trabalha com uma cultura religiosa muito presente no meio do povo brasileiro, que vem de uma mistura de diferentes religiões.
EXAME.com: Copiar outras religiões não é novidade na história da Universal. Alguns especialistas até afirmam que esta seria a fórmula do sucesso da igreja. O senhor concorda?
Edin Abumanssur: O sincretismo já estava presente no imaginário e na cultura do brasileiro. O Edir Macedo teve sucesso ao fazer este apanhado das religiões orientais, com a teologia da prosperidade, do candomblé e do catolicismo popular.
Para a Universal, o mundo está dividido em duas facções – uma liderada por Deus e outra, pelo mal. A esperteza dele foi dar nome e cara para o diabo. Isso significa que você pode controlá-lo desde que mostre de que lado está na batalha espiritual.
EXAME.com: A televisão ajudou neste processo?
Edin Abumanssur: As igrejas neopentecostais não existiriam se não fosse o acesso à mídia. Eles não trabalham com um grupo de membros, com a ideia de vida comunitária – que é comum nas igrejas tradicionais. Eles trabalham com uma flutuação enorme de pessoas. Portanto, a mídia de massa é fundamental.