Seis anos antes, o frei dominicano Tito de Alencar se enforcava com uma corda jogada sobre o caibro de um galpão em Lyon, na França, assombrado pela imagem do delegado Sérgio Paranhos Fleury, que o havia torturado pessoalmente em São Paulo.
Há ainda uma legião de ativistas que, passados 46 dos anos mais violentos da ditadura brasileira, entre 1969 e 1974, não conseguiu superar os traumas psicológicos causados pelos horrores do cárcere e de sua face mais cruel: a tortura, as execuções sumárias de prisioneiros dominados, sem chances de reação e, para dar requinte à barbárie, os desaparecimentos forçados – crimes imprescritíveis no mundo democrático.
Transtornados pelos pesadelos, assombrados e deprimidos pelas lembranças dos algozes e da humilhação, muitos outros ex-militantes, mesmo depois que a ditadura terminou, também não aguentaram os traumas e se mataram. É difícil chegar a um consenso sobre o número de suicídios ocorridos depois da Anistia, em 1979, porque muitos casos são atribuídos a morte natural ou acidental, mas certamente passa de uma dezena. Nos centros de detenção e tortura, dezenas de homens e mulheres que figuram numa lista de desaparecidos cujo número varia ente 150 e 180 militantes simplesmente não resistiram e sucumbiram sem vida nas mãos dos torturadores.
Fonte: Vasconcelo Quadros – iG São Paulo